A Polícia Civil segue investigando se o ex-prefeito Aprígio tinha conhecimento da execução do atentado a tiros de fuzil, que foi concluído como forjado pelo Ministério Público e pela corporação policial. O caso ocorreu às vésperas do segundo turno das eleições municipais, em outubro do ano passado. Os investigadores suspeitam que Aprígio não apenas sabia do plano, mas também teria adquirido o fuzil por R$ 85 mil, além de gastar R$ 15 mil na compra de munições usadas no ataque simulado. A reviravolta no caso foi revelada na manhã da última segunda-feira (17/2), durante uma coletiva de imprensa realizada na Delegacia Seccional de Taboão da Serra. A ação foi parte da operação "Fato Oculto", conduzida em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Na época do atentado, Aprígio era prefeito e tentava a reeleição, mas acabou derrotado por Engenheiro Daniel (União Brasil), que venceu por mais de 89 mil votos e desabafou sobre os desfechos da investigação

Depoimento do delator

Um delator premiado revelou detalhes da suposta trama. Segundo ele, "o ex-prefeito pagou pelo fuzil e seus secretários participaram da negociação, que previa um pagamento de R$ 500 mil para cinco atiradores e comparsas".

"José Aprígio queria contratá-los para ‘dar um susto’ nele mesmo, a fim de chamar a atenção da mídia e impulsionar sua candidatura à prefeitura", afirmou o delator em um trecho do depoimento obtido pela equipe do G1.

Ainda segundo o colaborador, "foi o próprio prefeito quem pediu para que atirassem no vidro do veículo, pois ele e seus secretários acreditavam que os disparos não perfurariam os vidros blindados".

O que diz a investigação

"Não há qualquer indício de que o atentado tenha sido cometido por uma organização criminosa ou por um grupo político rival. Pelo contrário, os elementos apontam que foi orquestrado pelo próprio grupo político de Aprígio, que tentava impulsionar uma candidatura que estava enfraquecida naquele momento", declarou o promotor Juliano Carvalho Atoji.

O delegado-seccional Hélio Bressan reforçou a suspeita de que o plano foi montado internamente. "Por que algumas pessoas estavam tão interessadas em saber o nível de blindagem do veículo? São vários aspectos que nos levam a concluir que havia uma trama. O prefeito vistoriava obras e estava extremamente vulnerável", disse ele.

A Polícia revelou ainda que a blindagem do carro do então prefeito era resistente apenas a tiros de armas de menor calibre, o que pode ter levado os envolvidos a calcular mal a simulação. Confira a dinâmica do crime falso.

Mandados e apreensões

A operação cumpriu dez mandados de busca e apreensão, além de dois de prisão temporária. Durante as buscas na residência de Aprígio, a polícia apreendeu uma quantia significativa de dinheiro em espécie. Segundo a Polícia, os R$ 320 mil encontrados no local não tiveram sua origem comprovada, embora a defesa do ex-prefeito alegue que o valor é lícito.

Durante as buscas, realizadas em endereços ligados a Aprígio, três secretários municipais, um sobrinho e o coordenador de campanha, Hélio Tristão diversos itens, incluindo computadores, celulares, pen drives, chips, HDs e armas foram apreendidos.

Além disso, um homem foi preso temporariamente, enquanto o irmão de Aprígio, Valdemar Aprígio, que também ocupava o cargo de secretário de Manutenção, foi detido em flagrante por porte ilegal de arma e munição.

Ao menos onze pessoas são investigadas pelo suposto atentado forjado. Entre os suspeitos, nove teriam participação direta no crime sob suspeita de associação criminosa e tentativa de homicídio.

A operação mobilizou 45 policiais, com o apoio de 21 viaturas e um helicóptero. "As investigações continuam com o objetivo de esclarecer os fatos e prender os envolvidos", afirmou a Secretaria de Segurança Pública do estado.

Relembre o caso

No dia do atentado forjado, o então prefeito almoçou em uma churrascaria próxima ao local do ocorrido e visitava obras, além dos bairros atingidos pelas fortes chuvas que atingiram a cidade, dias anteriores. A imprensa regional foi previamente convocada para uma coletiva de imprensa na sede da Prefeitura no mesmo dia, mas o evento foi cancelado.

No entanto, um grupo de jornalistas rapidamente chegou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), para onde Aprígio foi levado logo após o suposto ataque, levantando suspeitas de que a presença da imprensa também fazia parte do plano.

O veículo foi atingido por seis disparos e, surpreendentemente, um deles atravessou o vidro blindado, ferindo de raspão o ombro esquerdo do ex-prefeito.

O que a defesa diz

Em nota ao Click Regional, o advogado de José Aprígio afirmou que "Aprígio é vítima, sofreu um tiro com armamento pesado em outubro de 2024 que, por sorte, não ceifou a sua vida.Esclarece que, em relação ao dinheiro apreendido, trata-se de quantia devidamente declarada em seu imposto de renda, e, portanto, de origem lícita. Reitera a sua confiança no trabalho da Polícia Civil e no Ministério Público, e tem certeza de que todos os responsáveis serão devidamente punidos, após o devido processo legal.".